sábado, 26 de maio de 2012

O conceito do continuum - a importância da fase do colo

A antropóloga americana Jean Liedloff estudou a tribo venezuelana dos Yequana e defende que para conseguir um desenvolvimento físico, mental e emocional ótimo, o ser humano e especialmente um bebê, necessita o tipo de experiências às quais a nossa espécie se adaptou durante uma longa evolução. Para uma criança são: constante contato físico com seu cuidador desde o nascimento, dormir com os pais até deixar de fazê-lo por vontade própria, amamentação a livre demanda, ser levado constantemente nos braços ou de maneira que possa observar a atividade do adulto, ter cuidadores que respondam aos seus sinais imediatamente sem julgá-la e finalmente, sentir que cumpre as expectativas dos pais, que é bem-vindo e digno. Segundo Liedloff, as crianças cujas necessidades "continuum" forem satisfeitas crescerão com maior auto-estima e serão mais independentes.

Nos dois anos e meio que morei entre os índios da idade da pedra na selva sul-americana – não consecutivos, mas sim em cinco expedições distintas com muito tempo entre elas para refletir – cheguei a compreender que a natureza humana não é o que nos fizeram acreditar. Os bebês da tribo Yequana, longe de precisarem de paz e tranquilidade para dormir, tiravam uma soneca tranquilinhos enquanto os homens, mulheres ou crianças que os carregavam dançavam, corriam, andavam ou gritavam. Todas as crianças brincavam juntas sem brigar ou discutir e obedeciam aos mais velhos no mesmo instante e de bom grado.
A essa gente nunca lhes passou pela cabeça a idéia de castigar uma criança e, no entanto, seu comportamento não deixa entrever permissividade nenhuma. Nenhum moleque faz escândalo, interrompe os outros ou espera que um adulto lhe mime. Aos quatro anos, contribuíam mais com as tarefas do lar que davam trabalho elas mesmas.

Os bebês nos braços quase nunca choravam e era fascinante comprovar que não agitavam os braços e as pernas, não arqueavam as costas nem flexionavam as mãos e os pés. Permaneciam sentados nos slings ou dormiam encostados nos quadris do seu cuidador, desmentindo deste modo a crença de que os bebês precisam mover-se e flexionar as extremidades para exercitar-se. Também observei que não regurgitavam a não ser que estivessem muito doentes e que também não tinham cólicas. Quando se assustavam nos primeiros meses de engatinhar, não esperavam que ninguém acudisse correndo, ao invés disso, iam sozinhos em direção à mãe ou cuidador em busca dessa sensação de segurança antes de seguir com suas explorações. Inclusive sem supervisão, nem os menorzinhos se machucavam.

Será que sua natureza humana é diferente da nossa? Algumas pessoas assim o creem, mas evidentemente só existe uma espécie humana. Que podemos aprender, então, da tribo Yequana?

Antes de tudo, podemos tentar compreender o poder educativo do que eu chamo da “fase do colo”, que começa no momento do nascimento e termina quando o bebê começa a mover-se, quando pode afastar-se do seu cuidador e voltar quando queira. Essa fase consiste, simplesmente, em que o bebê tenha contato físico durante as 24 horas com um adulto ou criança mais velha.


A princípio, vi que essa experiência tinha um efeito extraordinariamente benéfico para os bebês, que não eram tão difíceis de tratar. Seus suaves corpinhos se adaptavam a qualquer postura que fosse cômoda para quem o levasse. Em contraposição a esse exemplo, vemos a incomodidade dos bebês que, com sumo cuidado, dormem no berço ou no carrinho. Bem agasalhados, se encontram lá jogados e rígidos, com o desejo de abrigar-se a um corpo vivo e em movimento: o lugar que lhes corresponde por natureza. Um corpo, em definitivo, que pertence a alguém que acreditará no seu choro e aliviará o seu anseio com braços afetuosos.


Por quê nossa sociedade é tão incompetente? Desde a infância, nos ensinam a não acreditar nos nossos instintos. Condicionados para desconfiar do que sentimos, nos persuadem para que não acreditemos no choro de um bebê que diz: “ Me pega no colo!”, “Quero estar com você!”, “Não me deixe!”. Em lugar disso, recusamos a idéia da resposta natural e seguimos os preceitos da moda que são ditados pelos “especialistas” no cuidado infantil. A perda da fé em nossa experiência inata nos leva a pular de um livro a outro, à medida que vão fracassando todas e cada uma das modas passageiras.

É essencial entender quem são os verdadeiros especialistas. O segundo especialista em cuidado de bebês reside no nosso interior, assim como em cada ser vivo que, por definição, deve saber como cuidar de sua cria. É claro que o maior especialista é o próprio bebê, programado durante milhões de anos de evolução para demonstrar seu temperamento com sons e gestos quando gosta do cuidado que recebe. A evolução é um processo de perfeição que “afinou” nosso comportamento com uma precisão magnífica. O sinal do bebê, a compreensão deste por parte dos que o rodeiam e o impulso a obedecê-la formam parte do caráter da nossa espécie. Nosso intelecto presunçoso demonstrou-se mal preparado para advinhar as autênticas necessidades do bebê. A pergunta costuma ser: “Devo pegar o bebê quando chora?”, “Devo deixar chorar um pouco antes de pegâ-lo?” ou “Deveria deixar que chore para que saiba quem manda e não se torne um tirano?”.

Nenhum bebê concordará com essas imposições. De forma unânime nos fazem saber através de gestos e sinais que não querem que lhes façamos dormir e lhes ponhamos no carrinho. Como essa opção não foi muito defendida na civilização ocidental atual, a relação entre pais e filhos acabou marcada por essa confrontação.


O jogo se centrou em como fazer o bebê dormir no berço, mas nunca se debateu se é preciso respeitar ou não o choro do bebê. Apesar de que o livro de Tine Thevenin, The Family Bed (A Cama Familiar), entre outros, abriu a brecha com o tema de que as crianças durmam com seus pais, não se abordou com claridade suficiente o princípio mais importante: “Atuar contra a natureza como espécie conduz irremediavelmente à perda do bem-estar”.

Então, uma vez que compreendamos e aceitemos o princípio de respeitar as expectativas inatas, poderemos descobrir com exatidão quais são essas expectativas. Em outras palavras, saberemos o que é que a evolução nos acostumou a experimentar e sentir.

A Função Educativa

Como cheguei à conclusão de quão importante é a fase do colo para o desenvolvimento de uma pessoa? A primeira coisa que vi foi como era feliz essa gente nas florestas da América do Sul com seus bebês penduradinhos no corpo e, pouco a pouco, fui relacionando esse fato tão simples com a qualidade de vida. Mais tarde, cheguei a certas conclusões a respeito de como e por quê é essencial o contato contínuo com o cuidador na fase pós-natal do desenvolvimento.

Por um lado, parece que a pessoa que carrega o bebê (normalmente a mãe durante os primeiros meses e depois uma criança de 4 a 12 anos que devolve o bebê à mãe para que esta lhe alimente) está servindo de base para as experiências posteriores. O bebê participa passivamente nas corridas, passeios, risadas, bate-papos, tarefas e brincadeiras do cuidador que o carrega. As atividades, o ritmo, as inflexões de linguagem, a variedade de vistas, noite e dia, a variação de temperatura, secura e humidade, além dos sons da vida em comunidade, formam a base para a participação ativa que começará aos seis ou oito meses, com o arrasto, a engatinhada e depois o passo. Um bebê que passou todo esse tempo deitado no berço, olhando o interior de um carrinho ou o céu, terá perdido a maior parte dessa experiência essencial.


Devido à necessidade que a criança tem de participar, é muito importante que os cuidadores não fiquem olhando pra ele ou perguntando constantemente o que querem, mas sim que deixem que eles mesmos tenham vidas ativas. De vez em quando, não podemos resistir a dar-lhes um monte de beijos, no entanto, uma criança que está acostumada a ver passar a vida agitada que levamos se confunde e se frustra quando nos dedicamos a contemplar como ele vive a sua. Um bebê que não fez mais que contemplar a vida que vivemos, se submerge na confusão se lhe pedimos que seja ele quem a dirija.

Parece que ninguém se deu conta da segunda função essencial da experiência da fase do colo, inclusive eu mesma, até meados da década de 60. Esta experiência dota os bebès de um mecanismo de descarga do excesso de energia que não são capazes de fazer por si mesmos. Nos meses anteriores a poder mover-se sozinhos, acumulam energia mediante a absorção do alimento e a luz solar. É então quando o bebê necessita o contato constante com o campo energético de uma pessoa ativa que possa descarregar o excesso de energia que nenhum dos dois utiliza. Isso explica porque os bebês Yequana estavam tão relaxados e porque não ficavam rígidos, davam chutes ou arqueavam as costas.

Para oferecer uma experiência ótima nesta etapa temos que aprender a descarregar nossa energia de maneira eficaz. Podemos acalmar mais rapidamente um bebê correndo com ele, dançando ou fazendo o que seja para eliminar o excesso de energia próprio. Uma mãe ou pai que tem que sair de repente para buscar alguma coisa não precisa dizer: ”Fica com o bebê que vou correndo até a loja”. O que tenha que sair que leve o bebê. Quanto mais ação, melhor.
Bebês e adultos experimentam tensões quando a circulação de energia nos seus músculos não flui bem. Um bebê cheio de energia acumulada não descarregada está pedindo ação: uma volta pela sala dando pulinhos ou uma dança agitada. O campo de energia do bebê aproveitará imediatamente essa descarga do adulto. Os bebês não são as pessoinhas frágeis que costumamos tratar com luvas de seda. De fato, se neste estágio de formação tratamos a um bebê como se fosse frágil, acabará acreditando que é fraco de verdade.

Como pais, podemos conseguir a destreza para comprender o fluxo de energia do nosso filho. No processo, descobriremos muitas mais maneiras de ajudá-lo a manter o suave tônus muscular do bem-estar ancestral e de proporcionar-lhe a calma e o conforto que necessita para sentir-se confortável nesse mundo.


Publicado originalmente na revista Mothering, edição do inverno de 1989 

Leitura: - Continuum Concept, The – Liedloff, Jean. Perseus Books (1986).
http://www.continuum-concept.org/
Tradução de Bel Kock-Allaman

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Crianças precisam de toque e atenção, dizem os pesquisadores de Harvard


A atitude de alguns americanos de "deixar o bebê chorar" pode causar medos e lágrimas quando ficarem adultos, de acordo com 2 pesquisadores da Harvard Medical School.

Em vez de deixarem os bebês chorarem, os pais americanos deveriam manter os bebês por perto, consolá-los quando eles choram, e trazê-los para a cama com eles, onde estarão seguros, palavras dos pesquisadores Michael L. Commons e Patrice M. Miller, do Departamento de Psiquiatria da Harvard Medical School.

Os pesquisadores examinaram os métodos de educação nos EUA e em outras culturas. Eles concluíram que a prática muito comum de colocar bebês em camas separadas - até em quartos separados - e não responder rapidamente ao choro deles, pode gerar incidência de stress pós-traumático e desordens de pânico quando essas crianças alcançarem a idade adulta.

A tensão mental resultante da separação, nessa fase da vida deles, causa mudanças nos cérebros dos bebês, fazendo com que quando adultos no futuro sejam mais suscetíveis ao stress, falam Commons e Miller.

"Os pais devem reconhecer que deixarem seus bebês chorar sem necessidade causam permanentes danos ao bebê," Commons falou. "Muda o sistema nervoso de uma maneira que eles ficam extremamente sensíveis a futuros traumas."

Os dois ganharam o centro das atenções em fevereiro, 2003, quando apresentaram as idéias no Congresso da Associação Americana para o Avanço da Ciência, na Philadelphia.

O trabalho dos pesquisadores da Harvard é único porque leva em consideração várias disciplinas, ou seja, examina a função cerebral, o aprendizado emocional em bebês, e diferenças culturais, comentam Charles R. Figley, diretor do Instituto de Traumatologia da Universidade Estadual da Flórida e editor do "The Journal of Traumatology".

"É muito raro, mas extremamente importante encontrar esse tipo de relatório científico interdisciplinar e multidisciplinar," Figley falou. "Leva em consideração diferenças culturais nas respostas emocionais das crianças e as suas habilidades em lidar com stress, incluindo stress resultante de trauma."

Figley comentou que o trabalho de Commons e Miller iluminou uma rota de estudos futuros e pode ter implicações importantes em todos os esforços dos pais, desde estimular a inteligência das crianças até algumas práticas como circuncisão.

Commons é professor e pesquisador da Medical School's Department of Psychiatry desde 1987 e membro do Programa em Psiquiatria e Lei do departamento. Miller é professora do Programa em Psiquiatria e Lei da Universidade desde 1994 e professor assistente de psicologia da Universidade de Salem State College desde 1993. Ela fez mestrado e doutorado em desenvolvimento humano.

Os pesquisadores falam que o jeito da maioria dos americanos (e o mundo ocidental em geral) educar seus filhos é influenciado por vários medos, como o medo de que as crianças cresçam muito dependentes. Em resposta a isso eles dizem que os pais estão no caminho errado: o contato físico e a segurança proporcionada pelos pais farão as crianças MAIS seguras e mais capazes de formar relações maduras quando elas finalmente se tornarem adultas.

"Nós enfatizamos independência tanto que isso está causando efeitos colaterais negativos," Miller falou.

Commons e Miller, usando dados que Miller tinha estudado bastante e tinham sido compilados por Robert A. LeVine, Roy Edward Larsen (Professor de Educação e Desenvolvimento Humano) comparou as práticas americanas de criar crianças com outras culturas, particularmente o povo "Gusii" do Kenya. Mães Gusii dormem com seus bebês e respondem rapidamente aos seus choros.

"Mães Gusii assistiram vídeos de mães dos EUA. Elas ficaram muito angustiadas em ver quanto tempo levou para essas mães responderem aos bebês chorando" - reportaram Commons e Miller.

O jeito como nós somos educados influencia a sociedade totalmente. Americanos em geral não gostam de ser tocados e se orgulham tanto de serem independentes que chegam ao ponto de se isolarem completamente, mesmo quando estão passando por dificuldades.

Apesar da opinião comum de que bebês devem aprender a ser deixados sozinhos, Miller falou que acredita que muitos pais "enganam", mantém os bebês no mesmo quarto que eles, pelo menos no começo. Além disso, quando o bebê começa a engatinhar muitos acabam por ir ao quarto dos pais.

Pais americanos não deveriam se preocupar com esse comportamento ou ficar com medo de dar carinho aos bebês. Pais devem se sentir livres para dormir com seus bebês, uma opção é ter um colchão no chão no mesmo quarto, e sempre confortar o bebê quando ele chora.

"Existem muitas maneiras de crescer e ser independente sem ter que sujeitar seus bebês a esse trauma", diz Commons. "Meu conselho é: mantenha suas crianças seguras, então eles vão crescer confiantes e não terão medo de arriscar."

Além do medo da dependência, os pesquisadores falaram que outros fatores tem contribuído para a formação dessa maneira de educar, incluindo o medo de que as crianças interfiram na vida sexual do casal se dividirem o mesmo quarto; os medos dos médicos de que os pais possam rolar sobre os bebês e machucá-los se dormirem na mesma cama. Além disso, a prosperidade crescente nos EUA tem ajudado na separação, pois fornece às famílias as condições econômicas para comprar casas maiores e com quartos separados para as crianças.

O resultado, dizem Commons e Miller, é uma nação que não gosta de tomar conta de seus próprios filhos, uma nação violenta e marcada pelas relações liberadas, não-físicas.

"Eu acho que existe uma grande resistência cultural no modo de criar as crianças", diz Commons. Mas "castigos e abandono nunca foram bons modos de chegar a pessoas carinhosas, que se preocupam com outros, e independentes."

Tradução: Andréia C. K.  Mortensen
Este artigo, original em inglês, pode ser lido em
http://www.news.harvard.edu/gazette/1998/04.09/ChildrenNeedTou.html

terça-feira, 22 de maio de 2012

O Choro do bebê em diversas Culturas

O Choro do bebê em diversas Culturas

"Há extensa evidência científica de que o estilo ocidental de cuidar do bebê repetidamente e, provavelmente de forma perigosa, provoca uma violação no sistema adaptativo chamado CHORO que evoluiu para ajudar os bebês a comunicarem-se com os adultos. Nos Estados Unidos, por exemplo, as pessoas estão acostumadas a crianças chorando em público. É aceito e até esperado que bebês em algum ponto da vida vão chorar por longos períodos. Como resultado, muitos adultos em transportes públicos passam longe de pais com crianças pequenas, para ficarem distantes antes de a choradeira começar. A situação é dramaticamente diferente em outras partes do mundo.

Até para um visitante esporádico, torna-se evidente que bebês fora da cultura ocidental raramente choram. Eu nunca vi um bebê na África ou em Bali chorando, durante as minhas muitas viagens a esses lugares. E esta observação é confirmada por pesquisas de pediatria relacionada à antropologia.

Num estudo comparando o total de choro entre bebês americanos, holandeses e da tribo !Kung San, Ronald Barr descobriu que os bebês nas 3 culturas choram com igual freqüência - ou seja, começam a choramingar o mesmo número de vezes por dia. Todos os bebês, independentemente da cultura, também produzem uma curva similar de choro (pico por volta dos 2 meses). Mas há uma dramática diferença na duração do choro nas diversas culturas. Bebês ocidentais berram por muito mais tempo em cada episódio de choro e o total de tempo gasto chorando a cada dia é maior tanto na Holanda quanto nos USA.
O pediatra Barry Brazelton descobriu que bebês da cultura Maya no México estão freqüentemente acordados mas calmos e não verificou períodos de choro intenso.

Num estudo com 160 bebês coreanos, um outro pesquisador descobriu que nenhum bebê foi classificado como tendo cólica, não houve pico de choro aos 2 meses de vida e aparentemente não houve choro excessivo no final da tarde. A amostra é intrigante porque os coreanos têm o mesmo nível sócio-econômico de outras nações desenvolvidas.

Bebês coreanos de 1 mês de vida passam somente 2 horas por dia, ou 8,3% do seu tempo, sozinhos. Em contraste, bebês americanos passam 67,5% do seu tempo sozinhos. Além disso, bebês coreanos são carregados no colo quase duas vezes mais diariamente que os bebês americanos. E as mães coreanas sempre respondem imediatamente ao choro do bebê, enquanto mães americanas são tipicamente ignoram o choro do bebê por grande parte do tempo.

Em outro estudo, Bell e Ainsworth descobriram que mães americanas deliberadamente não respondem a 46% dos episódios de choro dos bebês durante os primeiros 3 meses de vida. Deduz-se que o estilo de cuidar dos coreanos leva o mérito pelo menor tempo de choro e a inexistência de cólica.

Os estudos mostram que, embora o choro por si só seja universal entre os bebês, a forma em que o choro se manisfesta não é inato, mas facilmente influenciado pelo meio.
A noção de que todos os bebês choram muito de noite é falsa. A crença de que cólica é o final de um volume normal de choro, que é algo inevitável, também é errônea. O choro é altamente influenciado pelo ambiente imediatamente em volta do bebê.

Por mais que seja difícil explicar a uma mãe americana insone e exausta, que está passando mais uma noite em claro embalando seu filho, o estilo de cuidar ocidental parece ser a raiz do desconforto do bebê. E a solução não está simplesmente na forma de embalar ou de alimentar a criança. Nem significa que uma mãe é melhor que a outra.

Novas pesquisas mostram que os bebês ocidentais tipicamente choram por mais tempo e até desenvolvem "cólica", porque o estilo de cuidar que é culturalmente aceito é contraditório com a biologia infantil. Quando um bebê chora inconsolavelmente por horas, quando seu corpinho se arqueia em frustração, quando seus punhos dão socos no ar de raiva, vemos o exemplo mais claro de contradição entre biologia e cultura. O bebê está respondendo a um ambiente que foi culturalmente alterado e para o qual ele não está biologicamente adaptado.

O bebê é biologicamente adaptado a demandar um apego físico constante e um cuidado para o qual o bebê humano evoluiu milhões de anos atrás. Mas em algumas culturas, como nos países industrializados da Europa e da América do Norte, pais optam por uma relação mais independente com seus bebês. Eles decidem colocar os bebês em berços e em bebês-conforto ao invés de carregá-los consigo o tempo todo, alimentá-los em intervalos pré-determinados ao invés de sob demanda e responder mais lentamente aos seus sinais de desconforto. Embora esse estilo traga alguma liberdade aos pais, também traz um custo: um bebê chorão que não está biologicamente adaptado à modificação cultural."
Extraído do livro Our Babies, Ourselves. Meredith F. Small.

Capítulo "Crying across cultures"
Tradução de Flávia Mandic

O Berçário

O Berçário
Num berçário das maternidades da civilização ocidental há muito poucas possibilidades de receber consolo de uma mãe loba. O recém-nascido, cuja pele está pedindo a gritos voltar a sentir aquela carne suave, cálida e viva com a qual estava em contato, é envolvido num tecido seco e inerte. É colocado numa caixa e deixado aí, por mais que chore, num limbo onde não há o menor movimento (pela primeira vez em toda a experiência do seu corpo, na eternidade vivida no útero).

Os únicos sons que pode ouvir são os gemidos de outras vítimas que estão sofrendo o mesmo tormento indescritível. Pode ser que os sons não signifiquem nada para ele. O bebê não pára de chorar, seus pulmões, que não estão acostumados ao ar, ficam exaustos com o desespero que há no seu coração. Ninguém vem ao seu auxílio. Confiando na perfeição da vida, como a sua natureza o impele fazer, faz a única coisa que pode fazer, que é chorar. Até que, após um tempo que para ele é uma eternidade, adormece exausto.

Mais tarde acorda no vago terror que lhe produz o silêncio, a imobilidade. Começa a chorar. Todo o seu corpo, desde a cabeça até a ponta dos pés, está embargado por um anseio ardente, por uma intolerável impaciência. Respira com dificuldade e grita até sentir que sua palpitante cabeça está a ponto de explodir. Chora até que seu peito e sua garganta doam. Já não pode mais suportar a dor e seus soluços vão se apagando até se acalmar. Agora começa a escutar. Abre suas mãos e volta a fechá-las. Mexe a cabeça de um lado ao outro. Nada parece ajudá-lo. O sofrimento é insuportável. Começa a chorar de novo, mas é um esforço excessivo para a sua garganta dolorida e em pouco tempo se cala de novo. Tensiona seu corpo atormentado e ansioso e sente um pouco de consolo. Agita as mãozinhas e chutes no ar. Para, sofrendo, incapaz de pensar ou de ter esperanças. Fica escutando. De novo, acaba adormecendo.
Ao acordar, faz xixi na fralda e o acontecimento lhe distrai do seu tormento. Mas, o agradável ato de urinar e a sensação quente e úmida que sente na parte inferior do seu corpo desaparecem rapidamente. O calor torna-se frio e pegajoso. O bebê dá chutes, tensiona o corpinho e chora sem parar. Desesperado devido ao intenso desejo de contato que inunda, rodeado de um entorno inerte, úmido e incômodo, expressa chorando desconsoladamente sua infelicidade até que tranquiliza com o seu sono solitário.

De repente, alguém o acorda. Volta a acreditar que vai conseguir aquilo que tanto deseja. Tiram sua fralda. Sente-se aliviado. Umas mãos vivas lhe tocam a pele. Levantando seus pés, envolvem-no com outra fralda seca e sem vida. Em pouco tempo é como se as mãos e a fralda úmida nunca houvessem existido. Não há nenhuma lembrança consciente, nenhum sinal de esperança. Encontra-se em meio de um vazio insuportável, eterno, imóvil e silencioso, cheio de um intenso desejo vital de contato. Seu continuum tenta utilizar as medidas de emergência que dispõe, mas todas estão programadas para unir os breves espaços de tempo nos quais permanecerá sem receber um trato adequado ou para pedir consolo a alguém (que se imagina) que queira dar-lhe. Seu continuum não tem nenhuma solução para uma situação tão extrema. Esta supera sua pouca experiência. A natureza do bebê, mesmo que com poucas horas de existência, chegou a um ponto de desorientação que a situação supera a força salvadora do seu poderoso continuum.
A experiência vivida no útero foi a que provavelmente mais se aproximava do estado de bem-estar que, de acordo a suas expectativas inatas, tería que experimentar durante toda sua vida. Sua natureza baseia-se na suposição de que sua mãe está se comportando corretamente e que de todas as motivações que a impulsam e as ações conseguintes se beneficiarão sem dúvida umas às outras.

Alguém chega e o levanta deliciosamente em meio ao ar. Volta à vida. Levam-no de uma maneira excessivamente delicada para seu gosto, mas pelo menos experimenta algum movimento. Depois encontra-se em seu lugar. Todo o sofrimento que padeceu agora já não existe. Descansa em uns braços que o envolvem e apesar de que sua pele ao entrar em contato com a roupa da mãe não lhe envia nenhuma mensagem de encontrar consolo nem sinta o contato da pele viva, suas mãos e sua boca lhe comunicam que se sente bem. O prazer positivo que lhe produz a vida, o estado normal para o continuum é quase completo. O sabor e a textura do peito materno estão presentes, o leite cálido flui para sua boca faminta, ouve a batida de um coração que deveria ter sido todo o seu vínculo, o som que lhe confirma a continuidade da existência vivida no útero; as formas mexendo-se anunciam com claridade que existe vida. O som da voz também é correto. Só existe algo que falta na roupa e é o cheiro inalado (a mãe pôs perfume). O bebê suga o leite e quando está saciado e com as bochechas rosadas, cai adormecido.

Ao acordar, encontra-se num inferno. Não tem nenhuma lembrança, esperança nem pensamento da visita que lhe fez sua mãe que possa tranquilizá-lo nesse inóspito purgatório. As horas, os dias e noites vão passando. O bebê chora até ficar exausto e adormecido. Acorda e faz pipi na fralda. Agora esse ato já não é mais agradável. O prazer efêmero que produzem seus órgãos aliviados torna-se uma dor cada vez mais aguda quando a urina quente e ácida entrem em contato com sua pele irritada. Começa a chorar. Seus pulmões cansados necessitam gritar para não sentir a assadura dolorosa. Chora até que a dor e o pranto o esgotam até cair dormido.

Neste hospital, como é muito normal, as enfermeiras ocupadas trocam as fraldas dos recém-nascidos em horas determinadas, tanto se estão secos quanto se faz pouco ou muito que estão sujos e mandam os bebês às suas casas totalmente escaldados para que lhes cuidem alguém que tenha tempo para isso.

O bebê, quando é levado ao lar de sua mãe (sem dúvida não se pode dizer que seja o lar do bebê), já conhece a fundo como é a vida. A um nível inconsciente que determinará todas suas impressões posteriores, da mesma maneira que as determina agora, sabe que a vida é insuportavelmente solitária, que não responde aos seus sinais e que está cheia de sofrimento.

Mas ele ainda não se rendeu. Sua força vital tentará sempre recuperar o equilíbrio enquanto exista vida nele.

O lar no qual se encontra só é diferente do berçário da maternidade porque agora não tem a pele irritada. Durante as horas em que o bebê está acordado, está ansioso de contato físico e espera de maneira interminável que o vazio silencioso seja substituído pela situação correta.

Durante alguns minutos ao dia, o seu desejo intenso cessa momentaneamente e a terrível necessidade da sua pele ser tocada, sustentada e movida é satisfeita. Sua mãe é a pessoa que, depois de pensar muito, decidiu dar o peito. Ela o ama com uma ternura que nunca antes tinha sentido. A princípio, para ela é difícil deixá-lo num berço depois de amamentar, principalmente porque ele chora desconsoladamente. Mas está convencida de que deve fazê-lo, já que sua mãe lhe disse (e ela deveria saber) que se o pega no colo agora vai deixá-lo mal-acostumado e mais tarde seu filho lhe causará problemas. Ela deseja fazer tudo da melhor maneira possível, por uns momentos sente que a pequena vida que sustenta nos seus braços é mais importante que qualquer outra coisa no mundo.

Suspira e deixa suavemente seu filho no berço, decorado com patinhos amarelos que combinam com o quarto. Ela esmerou-se em decorá-lo com cortinas suaves e sedosas, um tapete em forma de um enorme urso panda, um trocador branco, uma banheira e um toucador equipados com talco, óleo, sabonete, shampoo e escova, tudo fabricado e embalado com cores especiais para bebês. A parede está decorada com imagens de filhotes de animais vestidos como gente. As gavetas da cômoda estão cheios de camisetinhas, macacões, pantufas, gorrinhos, bodies e fraldas. Sobre a cômoda, colocados de lado num ângulo cativante, estão um carneirinho de pelúcia e um vaso com flores recém-cortadas, já que a mamãe “também” adora flores.

Ela estica sua camisetinha e o envolve num lençol bordado e um cueiro decorado com as iniciais do bebê. A mãe o comtempla cheia de satisfação. Ela e seu marido não economizaram para decorar o quarto de seu bebê à perfeição, mesmo sem ter podido comprar todos os móveis para o resto da casa. Ela se inclina para beijar-lhe a bochecha e se dirige à porta enquanto o primeiro e agonizante grito faz estremecer o corpo do bebê.

Fecha a porta com suavidade. Foi declarada a guerra. Sua vontade deve impor-se à do seu filho. Através da porta ouve um som parecido a alguém que está sendo torturado. O sentido do seu continuum o reconhece como tal. A natureza não envia sinais claros de que alguém está sendo torturado a não ser que este seja o caso. A tortura é precisamente tão séria quanto parece.

A mãe duvida, seu coração deseja voltar ao seu filho, mas ela resiste e se afasta. Acaba de trocar e alimentar o seu filho. Como está certa de que ele não precisa realmente de nada, deixa-o chorar até que o pequeno durma exausto.

Ele acorda e volta a chorar. Sua mãe entreabre a porta para assegurar-se de que o pequeno está bem. Depois volta a fechá-la com suavidade para que seu filho não pense que vai receber a atenção que está pedindo e volta com pressa à cozinha para terminar o que estava fazendo, deixando a porta aberta para poder ouvir seu filho se acaso “acontecesse alguma coisa”.

O pranto do bebê vai se transformando em gemidos. Ao não receber nenhuma resposta, a força do seu sinal se perde na confusão de um vazio estéril ao qual o consolo deveria ter chegado faz muito tempo. O bebê olha ao seu redor. Além das barras do berço há uma parede. A luz é tênue. Ele não pode girar seu corpo. Só vê as barras imóveis e a parede. Ouve os sons sem sentido de um mundo distante. Perto não há nenhum som. Comtempla a parede até que os olhos se fecham e volta abri-los. As barras e a parede continuam exatamente no mesmo lugar que antes com a única diferença de que agora a luz é mais tênue.

Entre a eternidade que passa contemplando as barras e a parede, passa outra eternidade contemplando o teto. Ao longe, de um lado, vê umas formas estáticas que sempre estão lá.

Há momentos em que sente algum movimento e algo cobrindo seus ouvidos, um som apagado e um monte de roupa sobre ele. Quando isso acontece, ele pode ver do interior a esquina branca de plástico do carrinho e, de vez em quando, grandes blocos de casas deslizando-se ao longe. Vê também as copas das árvores distantes que também não tem nada a ver com ele. E às vezes pessoas olhando para ele e conversando entre si ou às vezes com ele.

Com mais frequência, essas pessoas agitam um objeto que faz barulho na frente dele e o bebê sente, ao estar tão perto, que está perto da vida e estica a mão e agita os braços desejando encontrar o seu lugar. Quando lhe dão o chocalho nas mãos, ele o pega e o mete na boca. Mas não recebe a sensação que estava esperando. Sacode os braços e o chocalho sai voando. Alguém lhe entrega o chocalho de novo. Como quer que essa pessoa volte, passa a jogar o chocalho e qualquer outro objeto que lhe deem nas mãos enquanto o truque funcione. Quando já não lhe devolvem mais, dedica-se a olhar o céu vazio e a capota do carrinho.

Quando chora no seu carrinho, muitas vezes é recompensado com sinais de vida. Sua mãe mexe o carrinho porque aprendeu que isso o faz ficar quieto. Seu intenso desejo de movimento e experiências, tudo aquilo que seus antepassados tiveram nos seus primeiros meses de vida, acalma-se um pouco quando sua mãe mexe o carrinho, algo que de uma maneira muito pobre oferece-lhe ao menos alguma experiência.

Como não associa as vozes que escuta ao seu redor com nada do que acontece com ele, elas tem muito pouco valor porque não anunciam que vão saciar suas expectativas. No entanto, são mais gratificantes que o silêncio que reinava na maternidade. O consciente da experiência do seu continuum está quase a zero, sua principal experiência real é a do desejo.

Sua mãe o pesa com regularidade e sente-se orgulhosa do progresso do seu filho. As únicas experiências úteis são os poucos minutos ao dia que lhe permitem estar nos braços e algumas outras vividas de maneira irregular que lhe servem para suas outras necessidades e que vão se agregando ao seu tempo permitido.

Os objetos que lhe poem ao alcance servem para imitar aquilo que está faltando. A tradição dita que os brinquedos consolam os bebês que estão sofrendo, mas de algum modo o fazem sem reconhecer o sofrimento dos mesmos.

Em primeiro lugar, está o ursinho ou qualquer outro boneco suave que serve “para dormir”. Está concebido para dar ao bebê a sensação de um constante companheiro. O intenso carinho que às vezes uma criança acaba sentindo por ele é considerado um encantador capricho infantil em vez de ser a manifestação de uma grave carência afetiva que o levou a apegar-se a um objeto inanimado na sua necessidade de encontrar um companheiro que não lhe abandone. Os carrinhos com brinquedos que fazem barulho e os berços que balançam também são outra triste imitação. Mas o movimento enquanto sua mãe o transporta substitui de uma maneira tão pobre e tosca, que pouco satisfaz o desejo do solitário bebê. Além de ser inadqeuado, costuma também ser de frequência irregular. Também existem os brinquedos que se penduram nos berços e fazem som quando o bebê os toca. Os móbiles atraem sua atenção, mas só tocam de vez em quando e não chegam a saciar a necessidade que o bebê tem para o seu desenvolvimento de desfrutar de uma experiência visual e auditiva variada [...]

Tradução de Bel Kock-Allaman

Fonte: Red canguro

segunda-feira, 21 de maio de 2012

E se você...

E se você enxergasse a sexualidade como uma coisa natural?
E se você considerasse o sexo como uma necessidade fisiológica?
E entenda como sexualidade uma pulsão natural do corpo.
E entenda o sexo como uma necessidade fisiológica tão natural do corpo quanto comer, dormir, respirar.
O ser humano é um ser dotado de sexualidade desde que nasce. Essa sexualidade passa por diversas fases, conforme o indivíduo vai se desenvolvendo.
Em cada uma dessas fases a sexualidade é expressa de maneira diferente.
Enquanto ela não se localiza nos genitais, poucas explicações são necessárias, mas a partir do momento em que ela se "instala" nessa "região proibida" as informações passadas são tão ambíguas que requer explicações.
Não haveria necessidade de explicações a respeito, se tudo isso fosse natural. Independentemente da fase em que se encontrasse, o indivíduo teria condições de entender-se, de expressar-se.
Só existe curiosidade onde as dúvidas não são esclarecidas de forma convincente e satisfatória. E se existem dúvidas, tenha certeza de que haverá procura incessante por respostas, porque se houve maturidade para surgir a dúvida, há também maturidade para receber a resposta, e a resposta seria muito natural se para quem responde o assunto fosse igualmente natural. Quem determina a hora de ser esclarecido quanto a qualquer assunto é sempre quem pergunta e não quem vai responder, e a resposta adequada é aquela que satisfaz a curiosidade, esclarece a dúvida e nada além disso.

Educação e Limites

Cuidado com a educação do seu filho e a forma que você escolheu para educar e impor limites. Existe uma diferença enorme entre autoridade e autoritarismo. Você exerce autoridade quando, ao dar limites ao seu filho, o foco é a criança, seu bom desenvolvimento, sua segurança. Autoritarismo é quando você impõem limites ao seu filho com foco em você, desrespeitando a idade, a compreensão e as limitações da criança. As consequências da segunda opção certamente serão catastróficas.

“Não minha filha, este programa não é adequado para sua idade.”

Feita a proibição, de forma quase imperceptível e, em outras tantas pequenas atitudes e discursos, vai se anulando a sexualidade da criança e negando a ela o direito de expressar suas dúvidas e conceitos fantasiosos inerentes à idade, ao mesmo tempo em que o proibidor denuncia sua própria sexualidade mal resolvida. Esta sexualidade mal resolvida impede que haja uma orientação clara e simples, que facilmente supririam as demandas infantis. Impede que ele (o proibidor) aceite a evolução sexual da criança, tornando mais fácil a proibição.

A repressão sexual, sofrida pelo proibidor na infância, gera uma vida sexual adulta mal resolvida, insatisfatória, cheia de idéias e práticas distorcidas, hoje chamadas de “perversões”, que o levam a reproduzir tal repressão. Quanto mais distorcidas e insatisfatórias as práticas sexuais do proibidor, maior o nível de repressão a se reproduzir nas crianças em formação.

Aceitar que a criança é um ser sexual, que elabora e questiona tais questões, esbarra nesta “perversão” adulta, não levando em consideração que este assunto é natural e que para a criança tem outra conotação.

Impedir que a criança entre em contato com novelas, filmes, palavrões e cenas, que também apresentam este assunto de forma inadequada, não impede que ela pense, pesquise e se informe, muitas vezes em fontes despreparadas.

Se for levado em consideração que, a energia sexual reprimida nesta criança, não será utilizada de forma satisfatória na vida adulta, justamente por causa da repressão sofrida, e que é esta energia que sustenta as inúmeras neuroses, que podem ser somatizadas no corpo, será percebido que está se criando adultos doentes, que precisarão cada vez mais de proibições para conter suas práticas distorcidas e inadequadas, aos olhos dos repressores.

Para quebrar este ciclo, é preciso que o repressor trate de suas próprias questões sexuais, e quando estas se tornarem naturais e satisfatórias para ele, aí sim ele terá condições de tratar de forma natural estas questões com as crianças, sem que haja necessidade de tantas proibições ineficientes ao que se propõem o proibidor, porque mesmo exposta a informações distorcidas e inadequadas, a criança terá onde encontrar respostas simples, claras, sinceras e adequadas: Na boca e na prática de um adulto satisfeito e saudável.